Estudo revela as 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal; presença de facções cresce e já atinge quase metade da região
Um novo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quarta-feira (19), aponta as 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal. O estudo mostra que a atuação de facções criminosas avançou de forma acelerada e já alcança 344 dos 772 municípios da região — quase metade do total.
A Amazônia Legal é formada por nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Para definir o ranking, o FBSP analisou as taxas de mortes violentas intencionais registradas nos últimos três anos, considerando grupos de 100 mil habitantes. Os municípios foram divididos por porte populacional:
Pequeno 1 (até 20 mil habitantes), Pequeno 2 (20 a 50 mil), Médio (50 a 100 mil) e Grande (acima de 100 mil moradores).
O resultado compõe a 4ª edição do relatório Cartografias da Violência na Amazônia, produzido em parceria com o Instituto Clima e Sociedade, Instituto Itaúsa, Instituto Mãe Crioula e o Laboratório Interpretativo Laiv.
“Fotografia dos municípios mais violentos”
De acordo com David Marques, gerente de projetos do FBSP, o avanço das facções e a disputa pelo controle territorial são fatores centrais no aumento das mortes. Dissidências internas — especialmente entre grupos ligados ao Comando Vermelho (CV), PCC e outras organizações regionais — criam cenários de instabilidade e impulsionam as taxas de homicídios.
O Mato Grosso ilustra o fenômeno: seis dos 20 municípios listados estão no estado. Em algumas áreas, a violência envolve garimpo ilegal, presença de facções e até formação de “proto-milícias” por garimpeiros, segundo o estudo.
As 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal e seus principais vetores de crime
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Vila Bela da Santíssima Trindade (MT): localização estratégica próxima à Bolívia, rota para o tráfico de drogas.
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Nobres (MT): sob influência do Comando Vermelho, registrou conflitos com o PCC.
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Calçoene (AP): cortada pela BR-156, corredor importante para o tráfico entre Macapá e Oiapoque.
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Alto Paraguai (MT): dominado pela facção Tropa do Castelar, ligada ao CV, próximo às BR-163 e BR-364.
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Cumaru do Norte (PA): violência associada a conflitos agrários, garimpo e avanço do desmatamento.
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Rio Preto da Eva (AM): cenário de disputa entre PCC e CV em 2024.
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Barra do Bugres (MT): rota estratégica para drogas vindas da Bolívia; disputada por CV e PCC.
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Aripuanã (MT): combinação de garimpo ilegal, tráfico e presença do CV em áreas indígenas.
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Novo Progresso (PA): BR-163 funciona como corredor para drogas; conflitos fundiários são recorrentes.
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Mocajuba (PA): metade das mortes violentas foi causada pela polícia; atuação do CV também influencia.
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São Félix do Xingu (PA): concentração de desmatamento, conflitos rurais e facções.
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Coari (AM): corredor hidroviário estratégico para drogas vindas do Peru e da Colômbia.
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Iranduba (AM): integra a Região Metropolitana de Manaus, absorvendo dinâmicas do CV.
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Tabatinga (AM): tríplice fronteira com Peru e Colômbia, uma das principais portas de entrada da cocaína no Brasil.
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Santa Inês (MA): cortada por duas BRs, ferrovia e aeroporto; considerada ponto estratégico para escoamento de drogas.
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Sorriso (MT): CV e PCC disputam o território desde 2023.
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Santana e Macapá (AP): concentram 75% da população e 79% das mortes violentas do Amapá; localização favorece crime transfronteiriço.
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Altamira (PA): histórico de grilagem, desmatamento e conflito entre CCA e CV.
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Itaituba (PA): eixo estratégico no rio Tapajós, com forte presença de garimpo ilegal e facções.
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Facções avançam e já dominam quase metade da Amazônia Legal
O estudo mostra que a presença de facções criminosas cresceu 32,3% em um ano. Em 2023, 260 municípios registravam algum tipo de atuação criminal organizada; agora, o número subiu para 344.
A expansão acompanha rotas do tráfico de drogas, áreas de garimpo ilegal, fronteiras internacionais e regiões de intenso desmatamento.