A cena parece saída de um roteiro ruim: três pessoas saem de um banco carregando meio milhão de reais em dinheiro vivo. Não é ficção. Aconteceu em pleno Centro de São Luís, à luz do dia, na sexta-feira passada.
O dinheiro vinha de emendas parlamentares. Destino oficial: a cultura maranhense. Destino real: mochilas.
Os nomes não são desconhecidos.
Maria José de Lima Soares, presidente do Boi de Maracanã, aparece como representante da Banzeiro Grande Produções.
Larissa Rezende Santos, assessora de uma deputada estadual.
E Ivan Jorge da Piedade Madeira, presidente da Companhia de Cultura Popular Catarina Mina.
Três personagens de um enredo que o Maranhão já cansou de assistir: o da boa ideia corrompida por maus executores.
O sistema de emendas parlamentares nasceu com um propósito nobre — levar recursos para projetos sociais, culturais e comunitários. Mas, por aqui, o nobre tem virado negócio. E quando o negócio é dinheiro público, a tentação fala mais alto que o propósito.
O mais cruel dessa história é o efeito colateral.
Porque toda vez que alguém usa uma ONG, um instituto, uma associação cultural pra desviar recursos, quem paga é quem trabalha direito.
É o grupo de teatro que vive de vaquinha.
É a entidade que precisa de dois mil reais pra pintar o salão.
É o coletivo que rala pra manter um projeto social de pé — e agora é visto com desconfiança.
Quando o crime se disfarça de cultura, a cultura é que apanha.
E quando o sistema político protege quem frauda, a moral pública se acostuma a fingir que não vê.
O Maranhão não é pobre de talento.
É pobre de vergonha na cara — e de fiscalização eficiente.
Enquanto a Polícia Federal caça mochilas com dinheiro, centenas de projetos honestos seguem sem um centavo pra mostrar trabalho.
Mas quem disse que honestidade dá lucro?