A Semana de Alta-Costura de Paris, que iniciou na segunda (07) e terminou nesta quinta-feira (10), trouxe à Cidade Luz um desfile de narrativas visuais, onde a moda ultrapassou o vestuário e se consolidou, mais uma vez, como linguagem simbólica.

Ao todo, 27 grifes apresentaram suas coleções outono/inverno 2026, explorando matérias-primas refinadas e o trabalho artesanal que caracteriza a alta-costura.

Para Ana França, artista de moda especializada em alta costura e design emocional, os desfiles deste ano não apenas anteciparam tendências, mas também resgataram questionamentos sobre identidade, sociedade e comportamento.

“Cada vestido apresentou muito mais do que design, eles trouxeram histórias, conflitos e simbolismos que refletem o momento atual e as reflexões de cada marca”, explica Ana França.

Robert Wun: Camadas que revelam e escondemAnálise dos destaques da Semana de Alto Costura:

O estilista Robert Wun, um dos nomes mais recentes na alta-costura, apresentou uma noiva que foge dos padrões tradicionais. Segundo Ana França, o vestido é uma metáfora sobre transformação e vulnerabilidade.

“A saia cheia de camadas evoca a complexidade emocional do casamento, enquanto o mini-manequim na cabeça sugere a pressão social e os julgamentos externos. Mesmo no momento mais íntimo, a mulher não está livre do olhar do outro”.

“A peça mistura força e fragilidade, unhas pontiagudas, mas cobertas por luvas, e uma estrutura volumosa, mas transparente, convidando o público a olhar além da aparência e refletir sobre as camadas internas da mulher contemporânea”, comenta.

Já a Balenciaga trouxe uma noiva coberta por uma estrutura austera e sofisticada. Feito em renda, o vestido equilibra suavidade e rigidez.

“É um vestido que impõe postura e força. A gola alta obriga a manter a cabeça erguida, enquanto a transparência sugere vulnerabilidade. Um jogo de opostos entre desejo e proteção”, analisa Ana França.

A peça, segundo ela, é um exemplo da tradição da Balenciaga em criar silhuetas marcantes que, mesmo minimalistas, carregam poesia e tensão emocional.

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3 – Chanel: Leveza que encontra firmeza


A Chanel trouxe uma proposta mais etérea, mas não menos profunda, o vestido apresenta um degradê de texturas que vai de um tecido mais denso no topo até uma saia de tule leve, quase flutuante, mas um elemento inesperado quebra a delicadeza, os sapatos pesados.
“Esse contraste simboliza o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. A leveza da saia sugere libertação, mas o sapato pesado lembra que caminhar com leveza exige estrutura emocional e maturidade”.
“O buquê de trigo dourado completa a narrativa: um símbolo da natureza ressignificado como luxo, colocando nas mãos da noiva, e não no vestido, o verdadeiro foco da cena”, afirma Ana França.Reflexões além da passarela
Mais do que tendências para o outono/inverno 2026, a Semana de Alta-Costura de Paris reforçou como a moda continua sendo um espaço de reflexão sobre o comportamento humano e os dilemas contemporâneos.“Esses vestidos falam de quem somos, das pressões que carregamos e da busca por autenticidade em um mundo que nos observa o tempo todo”, conclui Ana França.