Há uma sabedoria antiga que diz que ovo não briga com pedra. Um quebra, o outro segue firme. No Maranhão, porém, o ditado anda mais confuso. Nos últimos dias, a política local parece ter esquecido quem é o ovo e quem é a pedra — e isso talvez diga mais sobre o momento do que sobre os personagens.

De um lado, Flávio Dino, ex-governador, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, mantém o silêncio de quem começou a entende o peso da toga e o alcance da palavra. Não se pronuncia, mas sua sombra segue projetada sobre a cena política maranhense. É o tipo de silêncio que fala.
De outro, Carlos Brandão, governador em exercício e herdeiro político de Dino, que passou boa parte dos últimos anos apenas ouvindo e aceitando tudo calado, enquanto era vice-governador. Agora, enfrenta tempestades com o nome do irmão no olho do furacão e, pela primeira vez, decide soltar a própria nota — e, junto com ela, a própria voz.

Brandão entendeu que em política há momentos em que o silêncio não é prudência, é fraqueza. Ao se manifestar, buscou mostrar que há um governador no comando, não apenas um continuador de governo. Que a cadeira que ocupa não é interina nem tutelada.
Mas a nota que pretendia encerrar a confusão talvez tenha aberto uma nova fase: a do confronto simbólico com Dino. E é aí que o ditado se inverte — porque quando o ovo cria casca, até a pedra pensa duas vezes antes de jogar.

Dino, por sua vez, não precisa mais falar. Seu nome ainda é senha de obediência em muitos corredores e receio em outros. O tempo e a toga lhe deram um poder silencioso, mas nem por isso menos efetivo. No tabuleiro político do Maranhão, ele continua sendo a peça que todos olham antes de mover.

A briga — que não nasceu ontem — não é direta. É feita de gestos, de entrelinhas, de recados públicos e de bastidores cada vez mais ruidosos. O governador reage à pressão do entorno; o ministro observa de longe, sem descer ao terreno. Mas ambos sabem que, no imaginário político maranhense, não há espaço para dois líderes com o mesmo DNA de poder.

A pergunta, portanto, permanece: quem é a pedra?
Talvez nenhum dos dois. Ou talvez ambos.
Porque no Maranhão de hoje, há ovos com casca de pedra e pedras que, com o tempo, aprenderam a ser maleáveis.
E, no fim, quem quebra mesmo?