Odete Roitman sobreviveu.
E, convenhamos, alguém duvidava?
A novela acabou, o Brasil continua.
A vilã ressuscitou com a ajuda de um capacho fiel — e o país inteiro entendeu a metáfora sem precisar de legenda.
Odete nunca morre. Só muda de endereço. Às vezes vai pra Miami. Às vezes pra Brasília.
Heleninha chorou, pediu perdão, assumiu a culpa.
E ninguém achou estranho.
Afinal, no Brasil, sempre há uma Heleninha disposta a pagar o preço pelos tiros disparados por outros.
E sempre há um Freitas de prontidão, servindo ao poder que o despreza.
O remake de Vale Tudo termina igual ao país que o inspirou:
a elite ilesa, a tragédia transformada em espetáculo, o crime tratado como marketing.
“Vale tudo?”, perguntou a autora em 1988.
Vale.
Vale até fingir que morreu, reaparecer rica e impune, e ainda encerrar o capítulo com um brinde à própria esperteza.
O público vibra.
Odete pisca para a câmera e diz: “Au revoir, Brasil.”
O público ri — talvez por nervoso.
Porque lá no fundo sabe: o país de Odete não é ficção.
É apenas o Brasil de sempre, reprisado em 4K.
A novela acabou.
Mas a história — a verdadeira — continua no mesmo horário, todos os dias, em canal aberto.