Na política maranhense, o que realmente muda é a previsibilidade do conflito. A disputa entre os grupos ligados ao governador Carlos Brandão (“brandonistas”) e ao ex-governador Flávio Dino (“dinistas”) nunca foi discreta — e já vinha sendo escancarada desde a costura da chapa de 2022. O que vemos agora é o vice-governador Felipe Camarão (PT) — peça de destaque no campo dinista — aplicar um movimento decisivo: ele declarou que não haverá renúncia conjunta. Com isso, encerra qualquer ilusão de trégua formal.

A recusa pública de Camarão não revela o racha (ele já era visível há tempos), mas sim elimina o último ponto de negociação que Brandão ainda tinha para sair do governo rumo ao Senado sem entregar por completo seu projeto sucessório.

O Custo da ‘Hipótese Zero’

No centro da estratégia brandonista, estava a ideia de garantir que, ao deixar o Palácio dos Leões, o controle da máquina estadual não passasse definitivamente para adversários no período de pré-campanha eleitoral — algo essencial para amparar a candidatura de Orleans Brandão, seu sobrinho e Secretário de Assuntos Municipalistas. (Orleans faz parte formalmente da estrutura do governo e é visto como peça-chave da estratégia brandonista.)

Com Camarão dizendo que a “hipótese de renúncia é zero”, Brandão é colocado em uma encruzilhada de alto risco:

  • Se deixar o governo para concorrer ao Senado, entregará ao vice o comando por meses decisivos — prejudicando a sustentação política de Orleans e do seu grupo.
  • Se permanecer no cargo para proteger o processo sucessório, poderá abrir mão da disputa ao Senado — e possivelmente desperdiçar uma janela estratégica na política nacional.

Há ainda um componente simbólico e político nessa movimentação: ao invocar lealdade ao “projeto do presidente Lula”, Camarão transfere para Brandão a obrigação de se alinhar publicamente à base nacional. Ele joga sobre Brandão o risco de eventual isolamento junto à Brasília, caso este decida agir de forma independente.

A manobra de Camarão, portanto, não cria o conflito — ele apenas o oficializa. E obriga Brandão a escolher: abandona a corrida ao Senado ou entrega o comando estadual a um rival. No Maranhão, paz não parece ser a moeda de troca — o tempo agora é de confronto assumido.