As olheiras carregam sinais que vão muito além da aparência. Tonalidade escura, vasos aparentes, sulcos profundos ou bolsas ao redor dos olhos refletem mudanças estruturais do rosto — e, nas mulheres que chegam ao climatério e à menopausa, essas alterações tendem a se intensificar.
Segundo a médica Isabel Martinez, embora a classificação tradicional das olheiras — pigmentar, vascular, estrutural e mista — continue válida, o que se observa com frequência no consultório é um quadro mais complexo nesse período da vida. “Nas pacientes menopausadas, falamos em olheira em multicamadas, porque há envolvimento simultâneo da pele, músculos, gordura, ligamentos, vasos e da matriz extracelular”, explica.
Esse entendimento acompanha o que a literatura científica descreve sobre os efeitos do hipoestrogenismo no envelhecimento cutâneo. Com a queda natural dos estrogênios, ocorre uma redução acelerada de colágeno e elastina, afinamento da derme e piora da elasticidade. “A matriz extracelular, que funciona como um ‘andaime’ de sustentação da pele e dos vasos, torna-se menos organizada, menos firme e menos hidratada”, afirma a médica.
Essas mudanças acontecem em todo o corpo, mas ficam especialmente evidentes na região dos olhos, onde a pele já é naturalmente mais fina. Nesse contexto, tornam-se mais frequentes a flacidez das pálpebras, a transparência dos vasos, o aprofundamento dos sulcos e a exposição da gordura orbital.
Envelhecimento periorbital vai além da pele
Estudos sobre o envelhecimento da região periorbital mostram que o processo ocorre em várias camadas anatômicas. O músculo orbicular dos olhos perde tônus e capacidade de contração, contribuindo para a flacidez. Os ligamentos de suporte tornam-se mais frouxos, enquanto a gordura intraorbital passa a se projetar, formando as bolsas. Além disso, a reabsorção óssea altera o contorno da órbita, acentuando o desnível entre a pálpebra e a bochecha.
“Quando esses fatores se somam ao hipoestrogenismo, há uma amplificação das olheiras e das bolsas, inclusive em pacientes que já fizeram cirurgia ou que, teoricamente, não teriam tecido suficiente para justificar tanta flacidez”, pontua Martinez.
É essa visão integrada que fundamenta o método ensinado no Climex Academy, que propõe compreender o envelhecimento como uma cascata de alterações estruturais e fisiológicas, e não como um problema superficial.
Por que “olheira em multicamadas”?
O termo se justifica porque, na menopausa, as alterações acontecem em planos anatômicos distintos:
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Camadas profundas (osso e gordura): perda de suporte ósseo e maior projeção da gordura orbital.
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Camadas intermediárias (músculos e ligamentos): hipotonia do orbicular, frouxidão ligamentar e pior definição do sulco palpebromalar.
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Camadas superficiais (derme, epiderme, vasos e matriz extracelular): flacidez, perda de colágeno e elastina, pigmentação acentuada e maior visibilidade vascular.
“A soma desses fatores cria aquele aspecto de expressão cansada que muitas mulheres relatam, mesmo após boas noites de sono”, explica.
Tratamento exige planejamento individualizado
De acordo com Isabel Martinez, não existe um único tratamento capaz de atuar em todas essas camadas. Por isso, o manejo deve ser feito com planejamento multicamadas, sempre respeitando a anatomia e os limites de segurança da região periocular.
Entre as abordagens possíveis estão:
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Lasers: melhoram textura, pigmentação e vasos aparentes.
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Radiofrequência e tecnologias de energia: promovem firmeza e retração suave da pele.
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Lasers fracionados (CO₂ e Er:YAG): estimulam colágeno, tratam flacidez e podem atuar como drug delivery.
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Preenchedores com ácido hialurônico: indicados em casos selecionados para suavizar o sulco lacrimal.
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Blefaroplastia: recomendada quando há excesso de pele ou bolsas que não respondem aos tratamentos não cirúrgicos.
A escolha depende sempre da causa predominante. “A paciente é avaliada como um todo: pele, estrutura, histórico, hábitos, comorbidades e rotina”, ressalta.
Sono, alergias e hábitos também influenciam
Condições como rinite crônica e alergias podem piorar significativamente as olheiras. A congestão venosa deixa a região mais arroxeada, e o ato frequente de esfregar os olhos intensifica a pigmentação e a flacidez. Privação de sono, apneia, estresse e alterações hormonais também agravam o quadro.
Para a CEO do Climex Club, tratar a olheira vai além da estética. “Muitas vezes é necessário tratar a causa, tratar a consequência — ou ambos — para alcançar resultados mais duradouros.”
Skincare inteligente e proteção solar
Inspirada pela cosmetologia coreana, Isabel Martinez defende um skincare específico para a área dos olhos, com fórmulas multifatoriais que combinem peptídeos firmadores, antioxidantes, clareadores suaves e ativos que reforcem a barreira cutânea.
Ela reforça ainda um cuidado básico, mas essencial: “Óculos de sol com proteção UV real. A radiação ultravioleta acelera tanto a pigmentação quanto a flacidez das pálpebras”.