Em meio às colinas áridas de Masafer Yatta, na Cisjordânia, o pequeno vilarejo de Khallet Athaba luta para existir. Desde fevereiro de 2025, a comunidade palestina tem sido alvo de ataques, demolições e ameaças diárias — um cenário que Médicos Sem Fronteiras (MSF) descreve como parte de uma “política de limpeza étnica” em curso na região.

De acordo com moradores e com a equipe da organização humanitária, mais de 85% das casas e abrigos da aldeia foram demolidos pelo exército israelense, em operações frequentemente acompanhadas por colonos armados e protegidas por forças militares.

“As famílias vivem sob medo constante. Muitos agora se abrigam em cavernas, tentando resistir ao deslocamento forçado”, relatou Frederieke van Dongen, coordenadora de assuntos humanitários da MSF.

Casas em ruínas, famílias nas cavernas

Na semana passada, uma nova ofensiva destruiu sete abrigos, nove tendas, 14 tanques de água e todo o sistema elétrico local. Restaram apenas três casas e uma escola em pé.
Com cerca de 100 moradores, Khallet Athaba enfrenta escassez de água potável, comida e atendimento médico. A população tenta se reorganizar, mas os ataques de colonos israelenses continuam, segundo testemunhos recolhidos pela MSF.

Um morador relatou que novas caravanas de assentamentos israelenses vêm se aproximando da área a cada semana, reduzindo o espaço e aumentando o risco de novos confrontos.

“Eles bateram nas crianças com barras de metal”

Durante uma visita médica, as equipes da MSF ouviram relatos de violência extrema.
Uma moradora contou que, sozinha com quatro filhos, teve sua casa invadida por nove colonos israelenses. Segundo ela, os agressores bateram nas crianças com barras de metal e tentaram acertar o bebê de três meses na cabeça.

“A mãe e o bebê foram atingidos por spray de pimenta. Ela teve o osso da mão fraturado, um filho de 13 anos quebrou o braço e outro, de 3 anos, teve ferimentos na cabeça. O bebê continua hospitalizado”, relatou van Dongen.

Para a organização, o episódio é um retrato do colapso humanitário que se intensifica na região, onde a violência de colonos ocorre sob aparente complacência das forças militares.

MSF denuncia padrão de perseguição e pede proteção internacional

Médicos Sem Fronteiras afirma que o que ocorre em Masafer Yatta não é um caso isolado, mas parte de uma estratégia de remoção forçada da população palestina.
A entidade mantém clínicas móveis de saúde física e mental em cinco vilarejos da região, prestando atendimento emergencial e suporte psicológico a famílias traumatizadas pelos ataques.

“Essas pessoas precisam de tudo — atendimento médico, alimentos, água, saneamento —, mas, acima de tudo, precisam de proteção e dignidade”, reforçou a coordenadora da MSF.

Apesar das perdas, os moradores afirmam que não abandonarão o vilarejo. “Eles insistem em permanecer, porque não aceitam se tornar refugiados em sua própria terra”, conclui o relatório da organização.