Flávio Dino ainda fala como quem está em campanha.
E, pelo visto, o palanque continua por perto — mesmo depois da toga.
Durante uma aula magna em São Luís, o ministro do Supremo resolveu brincar. Ou nem tanto.
Sugeriu ao vice-governador Felipe Camarão que montasse uma chapa:
“coloque Teresa como vice que essa chapa fica imbatível.”
Brincadeira ou não, ministros do STF não costumam brincar com política.
A frase bastou para incendiar a oposição, que viu ali o que chama de “atividade político-partidária” — proibida pela Constituição.
Em 15 de maio de 2025, o deputado Nikolas Ferreira correu ao Senado e protocolou um pedido de impeachment.
Parecia mais um gesto simbólico — até que, cinco meses depois, a história voltou.
Agora, em 15 de outubro de 2025, foi a vez de senadores da oposição levarem novo pedido à Mesa do Senado.
O documento, de 37 páginas, repete o argumento da violação à imparcialidade e fala até em “conflito de interesses”.
Mesmos fatos, novo palco, timing perfeito: em Brasília, nada é por acaso.
Nada indica que vá prosperar.
Mas o episódio expõe o mesmo dilema que acompanha Dino desde que trocou o Senado pela toga:
o ministro fala como político, age como político — e espera ser tratado como juiz.
O problema é que, no Supremo, aparência importa tanto quanto substância.
Mesmo uma piada pode virar munição institucional num país polarizado.
E Dino, experiente que é, sabe disso.
Se vai cair? Improvável.
Mas ficou a lição: quem fala como político corre o risco de ser ouvido como político —
mesmo sentado na mais alta cadeira da Justiça.
E, pelo visto, o palanque ainda não desistiu de Flávio Dino.