O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou nesta quarta-feira (29) que os únicos mortos que considera “vítimas” da megaoperação realizada no Complexo da Penha são os quatro policiais que perderam a vida durante a ação. A declaração foi dada em entrevista coletiva, um dia após a Defensoria Pública do Estado informar que o número de mortos já ultrapassa 130.

“Aquelas foram as verdadeiras quatro vítimas. De vítimas, ontem, só tivemos os quatro policiais”, disse Castro.

A fala do governador ocorre em meio à repercussão nacional da operação, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro. O governo estadual atualizou o número oficial de mortos, reduzindo o balanço divulgado inicialmente de 64 para 58. Desses, quatro são policiais. Castro reconheceu, no entanto, que os dados podem mudar conforme o avanço da perícia e do trabalho do Instituto Médico Legal (IML).

“Nossa contabilidade começa na hora em que os corpos entram no IML. Não contabilizamos por imagem ou foto. A Polícia Civil tem uma responsabilidade enorme de identificar quem era cada uma dessas pessoas. O dado vai mudar com certeza, o trabalho de perícia ainda não terminou”, afirmou.

Postagem “soma ou suma”

Antes da coletiva, o governador publicou nas redes sociais a frase “soma ou suma”, em tom de desafio. Questionado sobre o significado da mensagem, ele afirmou que o Estado não pretende pedir ajuda ao governo federal e que só aceita apoio de quem quiser colaborar com as forças de segurança.

“Todo aquele que quiser vir para cá no intuito de somar, seja governador, seja ministro ou qualquer outra autoridade, é bem-vindo. Os outros, que querem fazer confusão, que querem fazer politicagem, a nosso único recado é: suma. Ou soma ou suma”, disse.

Fila de corpos e números em disputa

Enquanto o governo tenta consolidar o número oficial de mortos, moradores da Penha relataram que mais de 60 corpos foram levados durante a madrugada e a manhã desta quarta-feira para a Praça São Lucas, no centro da comunidade. As vítimas, segundo relatos, foram recolhidas pelos próprios moradores após confrontos intensos.

O secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou à TV Globo que esses cadáveres não estão incluídos no balanço oficial do Estado. Até o momento, o governo não atualizou a contagem.

Operação mais letal da história

A ofensiva mobilizou 2,5 mil agentes, além de blindados e helicópteros, em uma ação para retomar áreas controladas pelo Comando Vermelho (CV). De acordo com a Secretaria de Segurança, criminosos chegaram a utilizar drones com explosivos para atacar as forças policiais.

Mesmo diante da pressão de entidades de direitos humanos, o governo classificou a operação como um “sucesso” e manteve o discurso de enfrentamento ao crime organizado.