Um caso grave de intoxicação por metanol chamou atenção em São Paulo após um comerciante de 55 anos, Cláudio Crespi, ser salvo graças a uma garrafa de vodca russa que estava fechada na casa da família. O etanol presente na bebida foi utilizado como antídoto, depois que os médicos constataram que o hospital não dispunha do medicamento específico para combater a intoxicação.

O incidente ocorreu em 26 de setembro, quando Cláudio começou a passar mal após consumir vodca entre São Paulo e Guarulhos. No dia seguinte, seu quadro se agravou, exigindo internação na UPA da Vila Maria, onde foi entubado. A sobrinha do comerciante, a advogada Camila Crespi, relatou que buscou a garrafa em casa a pedido da equipe médica, que utilizou a bebida por quatro dias, em ambiente hospitalar controlado, ajudando a estabilizar o paciente, juntamente com a hemodiálise.

O comerciante permaneceu em estado grave, mas despertou do coma em 2 de outubro e deixou a UTI após quatro dias. Atualmente, ele passa por tratamento para minimizar sequelas, incluindo perda parcial da visão e dificuldades de memória. “Sei que ganhei uma vida nova”, afirmou Cláudio.

O hepatologista Rogério Alves, do Hospital Beneficência Portuguesa, explicou que o metanol é extremamente tóxico: após ser ingerido, se transforma em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que atacam o sistema nervoso e podem causar cegueira ou morte. “O etanol atua bloqueando a enzima que transforma o metanol em veneno, permitindo que ele seja eliminado com segurança”, detalhou. Alves alerta, porém, que o etanol também é tóxico em excesso, podendo causar coma e problemas hepáticos.

O estado de São Paulo confirmou 25 casos de intoxicação por metanol, com 160 casos em investigação e 189 descartados. Até agora, cinco mortes foram confirmadas, e seis permanecem sob investigação. A Polícia Civil localizou uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, suspeita de misturar etanol de posto de combustível com metanol para produzir bebidas destiladas adulteradas.

A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo reforçou o protocolo de atendimento emergencial para vítimas de intoxicação, incluindo sintomas como tontura, confusão mental, náuseas, convulsões e alterações visuais. Além disso, a Justiça autorizou a destruição de 100 mil garrafas apreendidas, armazenadas em empresa de recicláveis que não realizava higienização ou controle sanitário adequado.