Entre os dias 12 e 14 de novembro, o Quilombo Urbano Liberdade, em São Luís, será tomado por tambores, cores e vozes femininas com o Festival Criola na Área, um encontro de música, arte e ancestralidade que chega para somar às celebrações do Mês da Consciência Negra, reafirmando a potência cultural das mulheres afro-latino-americanas no Maranhão.
Durante três dias, o público será convidado a vivenciar experiências que unem tradição e inovação, com uma programação que atravessa oficinas de criação artística, atividades infantis, mostras audiovisuais, apresentações de cultura popular e shows inéditos. Entre os destaques estão a Mostra Punga, que exibe produções dirigidas por mulheres negras, e o show Pantera Black com participações especiais, performance musical de encerramento que inspira o próprio nome do festival, um tributo à força do som e da palavra criola.
“Criola na Área”: um grito, um som, um território
A artista Pantera Black é uma das vozes centrais do festival. Seu som, que mistura rap, tambor e música eletrônica, ecoa como um chamado à ancestralidade e à liberdade, inspirando o nome do evento.
“Minha música é o reflexo da mulher preta periférica que cria e resiste. Criola na Área é sobre dançar e pensar, sobre o corpo que sente e o tambor que fala. É sobre colocar o beat a serviço da nossa história”, afirma a artista, que também ministra a oficina A Rima do Tambor ao Beat, explorando o diálogo entre poesia, percussão e performance.
Com o show Criola na Área, Pantera Black encerra a programação com chave de ouro, em um espetáculo que semeia o futuro ao lado de grandes nomes da música negra maranhense. A apresentação é descrita como um ritual de afirmação e libertação, unindo batidas contemporâneas e tambores tradicionais em celebração à inventividade das mulheres negras e periféricas do Maranhão.

A arte como semente
Para Amanda Bertrand, produtora e uma das idealizadoras do festival, o Criola na Área nasce como espaço de formação, troca e celebração entre mulheres criadoras. “Cada oficina, cada show e cada detalhe visual contam uma história de resistência e criação. A ideia é afirmar o poder da arte feita por mulheres negras, reafirmando a Liberdade como território de potência cultural e como um dos corações pulsantes da cultura maranhense”, explica.
Segundo ela, o festival é também uma forma de reconexão com a terra e com as ancestrais, uma retomada simbólica e prática dos espaços de criação. “É sobre se reconhecer na história, no som, na imagem e no gesto”, completa.
Diversidade de linguagens e encontros
A programação do festival mistura gerações e linguagens, propondo diálogos entre a cultura popular, o audiovisual, a literatura, a moda e as artes visuais. Tudo se cruza num mesmo território criativo, onde tradição e contemporaneidade dançam juntas.
As oficinas e vivências convidam o público a pôr a mão na massa e o ouvido no ritmo. Nanã Saias traz o colorido da natureza na oficina Aquarela de Quintal. Pantera Black faz rimar tambor e beat. Camila Reis conta histórias em Pereguedé. Regina Arcanjo desperta memórias com sabores ancestrais no Degusta Maranhão.
A Mostra Punga exibe os filmes Trançatlânticas, Ginga Reggae na Jamaica Brasileira e Maracanã – Território de Resistência, seguidos de conversa com Isabela Leite, Nayra Albuquerque e Lourdimar Silva. Mestra Rosa Barbosa faz demonstração de como construir caixas do Divino com reciclagem e as Zabumbeiras compartilham o toque que move o corpo e a festa.
Na rua, o pulsar continua com o Tambor de Crioula Filhas de São Benedito, Radiola Leoa Dourada, Batalha da LB, Slam com Carmen Kemoly, Afroprata, Tambor de Crioula da Floresta e a Salva das Caixeiras com Mestra Rosa Barbosa e convidadas.
Entre tambores, rimas e cheiros de feira, o público se encontra no Território Curumim e na Feirinha Criativa, espaços de convivência, brincadeira e afeto. Um festival que é travessia entre o ontem e o agora, entre quem cria e quem celebra.
Lojinha Criativa “Criola na Área”: arte que nasce das mãos e da memória
Entre tintas, risadas e memórias, a artista visual Skarlati Kemblin, conhecida como DaCordoBarro, assina a concepção da Lojinha Criativa “Criola na Área”, um espaço que une arte, moda, afeto e ancestralidade. A ação busca mostrar bastidores e afetos, revelando o fazer coletivo por trás da identidade visual e dos produtos que integram o universo do festival.
Manauara, mãe e arte-educadora, DaCordoBarro é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Sua trajetória cruza pintura, lambe-lambe, grafite e fotografia, tendo como base o corpo, a cidade e as memórias afetivas. Com uma produção que dialoga com a autoestima, o autoconhecimento e a identidade negra, a artista vem participando de exposições e projetos de destaque, como “Para cada vela um pedido” (Manaus, 2018), “De gota em gota” (São Luís, 2023) e a Enciclopédia Negra da Pinacoteca de São Paulo (2021).
“É uma alegria ver minha arte dialogar com a comunidade, com as mulheres que criam e resistem. A Lojinha é um espaço de trocas, de ver as coisas nascerem das mãos, do barro, das conversas”, comenta DaCordoBarro. A ação tem como objetivo humanizar o projeto e fortalecer a identificação afetiva com o público, valorizando o processo criativo.
O Festival Criola na Área também se afirma por sua assinatura criativa, resultado de um processo coletivo que traduz em formas, cores e traços a força das pessoas que o constroem. A identidade visual nasce do encontro entre artistas que compartilham referências, memórias e visões de mundo, transformando o design em mais uma linguagem de celebração e resistência.
A identidade visual do festival é fruto de uma criação coletiva, com ilustração de Tassila Custodes (@emiajedudu) e design e lettering de Dumá (@dumaaaaar), cuja sensibilidade gráfica dialoga com as potências da diversidade e da expressão criola.
Da semente crioula, a arte floresce
O Festival Criola na Área é, antes de tudo, uma celebração da arte crioula que floresce na comunidade. Da semente crioula nascem novos caminhos para a música, o cinema, o corpo e a palavra, expressões que se entrelaçam em um território onde o tambor é linguagem e o encontro é revolução.
O evento é viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), tem patrocínio da Vale e é realizado pela Upaon Mundo, Criola Beat, Ministério da Cultura e Governo do Brasil – do lado do povo brasileiro.