Uma mulher, que não se sabe de onde nem de que tempo vem, é atravessada por múltiplas vozes que ouvimos como se estivéssemos dentro de sua cabeça, que falam de diferentes formas através do corpo dela. Uma espécie de metamorfose vai se dando ao longo da ação, levando essa mulher a viver num limiar entre humano e crustáceo, entre mulher e carangueja. Esta é a ideia central do espetáculo CARANGUEJA, que chega a São Luís, com duas sessões nos dias 24 de outubro (às 19h30) e 25 de outubro (às 19h), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton. Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla a preços populares.
Idealizado, escrito e encenado por Tereza Seiblitz (RJ), CARANGUEJA fala da força criadora vital do planeta Terra e joga luz sobre as diversas ‘mulheridades’ existentes no mundo em movimento. O manguezal, formação vegetal de grande biodiversidade situada na transição entre os ambientes terrestre, fluvial e marinho, é a imagem escolhida para falar do que está em permanente transformação.
Seiblitz, que já viveu uma catadora de caranguejos na novela “Renascer” (1993), explica que o monólogo é uma alusão ao que se passa na mente humana. Em CARANGUEJA, ela evoca a figura de uma mulher que passa por uma espécie de metamorfose e começa a viver no limiar entre um ser humano e um caranguejo. Nesta relação de vida e sobrevivência, passeia, de forma poética e bem-humorada, por diversos temas como a maternidade, gênero, antropocentrismo e desigualdade social.
Em tempos de catástrofes ambientais e crises políticas e econômicas, tornou-se urgente, tanto para a autora quanto para a co-diretora Fernanda Silva (PI), falar da importância da preservação deste bioma, bem como de todas as outras formas de vida, hoje ameaçadas pelo comportamento e atuação do ser humano.
“Quando estive num manguezal pela primeira vez, andei e afundei na lama por muitas horas. Pensei: ‘isso aqui é o útero do mundo’. Foi maravilhosa a sensação de sentir a pulsação da fertilidade daquele lugar. Era de manhã cedo, muitos filhotinhos de caranguejo brilhavam na luz do sol. A lama era uma espécie de colo alegre e vital”, explica Tereza Seiblitz.
CARANGUEJA reforça a necessidade de agir e tomar para si a responsabilidade pela preservação e defesa deste bioma, entendendo que isso reflete diretamente na qualidade de vida sobre a Terra para todas as espécies. Como já disse Ailton Krenak: “a Terra sobrevive sem o ser humano, mas o ser humano não sobrevive sem uma Terra viva’”, finaliza Tereza.