A obesidade hoje figura entre os maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo — uma condição reconhecida como doença crônica pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, cerca de 68% da população brasileira está acima do peso, sendo que 31% vive com obesidade — o que corresponde a aproximadamente um em cada três brasileiros.
Esses números demonstram que o problema vai muito além da estética: associam-se a condições como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, além de impactos emocionais. Por isso, especialistas defendem que o combate à obesidade não pode se resumir a uma “dieta rápida”, mas exige intervenções contínuas e estruturadas.
Trajetória e projeções alarmantes
Ao longo das últimas décadas, o Brasil tem observado um avanço expressivo nos índices de obesidade. Conforme dados do IBGE, entre 2003 e 2019 a prevalência mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8%.
O Atlas Mundial da Obesidade 2025 projeta que esse avanço tende a persistir: até 2030, espera-se crescimento de até 33,4% nos casos entre homens e 46,2% entre mulheres.
Além disso, um estudo recente apresentado no Congresso Internacional de Obesidade (ICO 2024) estima que até 2044 — ou seja, daqui a duas décadas — quase 48% dos adultos brasileiros poderão ter obesidade, e mais 27% terão sobrepeso, totalizando três em cada quatro adultos vivendo com IMC elevado.
Os riscos vão além do corpo
A obesidade acarreta uma série de comorbidades e eleva a mortalidade precoce. No Brasil, estima-se que 60,9 mil mortes prematuras podem ser atribuídas ao sobrepeso e à obesidade, especialmente por meio de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes tipo 2 e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
No âmbito hospitalar, observa-se também um aumento nas internações associadas ao excesso de peso: entre 2008 e 2019, a taxa passou de 2,6 para 8,2 internações por 100 mil habitantes; apesar da queda durante a pandemia, dados mais recentes mostram retorno a níveis elevados.
Além dos impactos físicos, há evidente repercussão emocional: transtornos como ansiedade, depressão e o fenômeno da “autossabotagem” podem dificultar a adesão a hábitos alimentares saudáveis e ao tratamento contínuo.
Abordagem ideal: longo prazo, integralidade e multidisciplinariedade
Especialistas alertam para o risco de soluções imediatistas — como prescrição de inibidores de apetite ou cirurgia sem o suporte necessário — e pregam que a chave para o sucesso é um caminho mais sistemático. Em campanhas, médicos costumam enfatizar que “vencer a obesidade é uma maratona, não uma corrida de 100 metros” — expressão que reflete a necessidade de paciência, persistência e acompanhamento.
A estratégia ideal envolve abordagens integradas:
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Reeducação alimentar adaptada às particularidades do indivíduo
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Incentivo à prática regular de atividade física
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Suporte psicológico contínuo
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Monitoramento médico e nutricional de longo prazo
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Atuação pela redução de barreiras ambientais ao estilo de vida saudável
Essa visão está alinhada às diretrizes de atenção à saúde pública, que colocam a Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada essencial no enfrentamento de doenças crônicas — inclusive a obesidade.
Desafios estruturais e atuação institucional
O combate à obesidade implica um esforço coletivo que vai além do indivíduo. Os principais desafios incluem:
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Capacitação de profissionais de saúde nos diferentes níveis de atenção
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Protocolos integrados entre APS, atenção especializada e políticas de promoção da saúde
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Mapeamento de regiões vulneráveis
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Integração de políticas públicas em nutrição, educação, mobilidade urbana e regulação do ambiente alimentar
Organizações de saúde e operadoras privadas também podem atuar para estimular hábitos saudáveis — por exemplo, por meio de incentivos financeiros (subsídios para academias, programas de saúde corporativa, etc.).
Uma parte importante desse trabalho é tornar visível que o tratamento da obesidade exige cobertura contínua e políticas de enfrentamento — e não apenas lógicas pontuais de intervenção