Em política, quando dois lados contam histórias opostas com a mesma convicção, é porque um deles está mentindo — e o outro ainda não tem provas suficientes para mostrar.

Foi o que aconteceu no Maranhão. De um lado, os deputados federais Márcio Jerry e Rubens Pereira Júnior afirmam ter sido alvo de gravações ilegais, supostamente produzidas no âmbito da Polícia Civil do Estado. Levaram o caso à Câmara dos Deputados, pediram providências e solicitaram à Polícia Federal uma investigação.
Dizem que há áudios circulando com conversas deles — trechos que, segundo alegam, teriam saído de dentro da máquina estadual.

Do outro lado, o governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Segurança Pública, negou tudo.
Negou que existam inquéritos, interceptações ou perícias. Negou qualquer relação com os áudios e ainda pediu direito de resposta a blogs que publicaram versões ligando a polícia ao caso.
A nota foi dura: “não há investigação contra os parlamentares, não há escuta e não há uso político da instituição”.

A realidade é que, por enquanto, ninguém apresentou prova concreta de nada.
Não há laudo técnico, não há registro de autorização judicial, não há sequer confirmação de que as tais gravações existam de fato — para além do que circula em redes e bastidores.
Mesmo assim, o episódio já cumpriu seu papel político: tensionou o ambiente, reposicionou personagens e expôs rachaduras entre grupos que até pouco tempo estavam do mesmo lado.

Se as denúncias dos deputados forem verdadeiras, o caso é gravíssimo. Implica abuso de autoridade, violação de comunicações e uso político do aparato policial — o tipo de escândalo que derruba secretário e desgasta governo.
Mas se a Secretaria de Segurança Pública estiver dizendo a verdade, os deputados terão plantado um fato político sem base factual, um movimento típico de quem quer marcar território e chamar atenção para si.

Em qualquer das hipóteses, alguém mentiu — e não há meio-termo.
O Maranhão volta a assistir à sua política em modo de guerra: cada grupo gritando mais alto que o outro, apostando que a narrativa substitui a prova.

Por enquanto, o caso não passa de uma troca de acusações entre quem jura ter sido grampeado e quem garante nunca ter apertado o botão do gravador.
A dúvida que fica é simples e incômoda: quem mente melhor — o governo ou os deputados?

Porque, no Maranhão, como na velha política brasileira, às vezes a verdade fala baixo demais para ser ouvida.