
No próximo ano, José Dirceu pretende lançar um livro — o segundo volume de uma trilogia autobiográfica — e se candidatar, pela quarta vez, a deputado federal por São Paulo.
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Prestes a completar 80 anos, o ex-ministro da Casa Civil e dirigente do PT José Dirceu diz que está fazendo exercícios, bebendo menos vinho e se preparando para uma nova campanha eleitoral.
A nova disputa, segundo ele, foi um pedido expresso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e na qual ele pedirá votos como forma de justiça e “reparação”, após ter cumprido prisões que ele considera injustas pelo caso do mensalão e pela Operação Lava Jato. Dirceu voltou este ano a ocupar uma vaga na direção nacional do PT.
Pragmático e ateu, Dirceu conta que sua filha mais nova é evangélica. E recorre a um certo misticismo ao afirmar que conversa com Lula por pensamento, mas que raramente o encontra pessoalmente.
“Temos uma relação de quase 40 anos, e convivemos de 1979 até 2005 quase que semanalmente ou diariamente. Então nós também conversamos, vamos dizer assim, por telepatia.”
Tido como o cérebro que levou o PT ao poder com uma política de alianças e organização interna, ele reconhece as habilidades dos seus opositores. Afirma que Valdemar Costa Neto, fundador e presidente do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, “é o político mais hábil que tem na direita”, e “um dos quadros mais qualificados”.
A relação dos dois é antiga. Valdemar foi um dos articuladores da aliança do PT com o PL em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, com seu vice, José Alencar.
Mais tarde, Dirceu e Valdemar foram colegas de cela, presos no âmbito do mensalão, como ficou conhecida a “mesada” que deputados recebiam do PT para votar a favor dos projetos do governo em 2005 segundo condenação do Supremo Tribunal Federal. Dirceu nega, até hoje, a existência daquele que seria o primeiro grande escândalo de corrupção da era petista, ainda que mencione, sem detalhar, “erros”.
“O Valdemar às vezes ficava bravo comigo, porque eu queria arrumar uma lâmpada, porque eu queria ler, e ele dizia ‘Zé Dirceu, nós temos que sair daqui, para com isso, você parece que está querendo ficar’. E eu dizia, não Valdemar, eu quero ler”, contou o ex-ministro.
“Felizmente ele não ficou, mas eu fiquei. Eu estava certo, porque que eu fiquei, então eu tive que lutar por melhores condições dentro da prisão.”
Para ele, Jair Bolsonaro, condenado por golpe de Estado pelo Supremo e em prisão domiciliar, não tem condições de ficar preso, por ser “muito instável” e sem “autocontrole”. Para ele, é justo que Bolsonaro fique em casa, nas mesmas condições atuais do também ex-presidente condenado Fernando Collor de Mello.
O guerrilheiro, que foi preso cinco vezes — uma na ditadura, outra no mensalão e três vezes na Operação Lava Jato —, emocionou-se, ainda que discretamente, ao falar do ex-ministro da Fazenda, e ex-petista, Antônio Palocci.
“Éramos muito ligados afetivamente”, disse. “Quase que irmãos”. Mas deixaram de se falar depois que Palocci iniciou suas negociações com a Polícia Federal, à revelia do Ministério Público Federal, para colaboração premiada na Operação Lava Jato em 2018.
“Eu jamais faria [delação premiada]. Eu preferia morrer do que fazer”, diz Dirceu. “Ele fez, assumiu as consequências e eu não vou julgar, não vou fazer isso, porque acho que é até covardia fazer isso.”
Fonte: correiobraziliense.com.br